Novo estudo compara os impactos ambientais e de saúde no consumo de água.
Fonte CicloVivo| Márcia Sousa
A garrafinha de água é um problema ecológico. Assim, como outros plásticos descartáveis, o item é usado por poucos minutos e em seguida descartado. Além da produção de lixo, há o impacto na saúde – uma vez que estudos já descobriram mocroplásticos e altos níveis de arsênio na água engarrafada. Uma nova pesquisa, em Barcelona, na Espanha, comparou os impactos ambientais e de saúde das escolhas individuais de consumo de água.
Foram avaliadas três opções de consumo de água: água engarrafada, água da torneira e água da torneira filtrada.
Conduzido pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), o estudo descobriu que a água de garrafa apresenta cerca de 1.400 vezes mais impacto nos ecossistemas e custo de extração de recursos até 3.500 vezes maior do que a água da torneira. Isto é, em um hipotético cenário em que toda a população de Barcelona decidisse usar somente água engarrafada.
Os pesquisadores apontam que o consumo de água engarrafada tem aumentado nos últimos anos. Pesquisas anteriores sugerem que isso deve-se afatores subjetivos como percepção de risco, sabor, odor, falta de confiança na qualidade da água de torneira pública e marketing por empresas de água engarrafada.
“A qualidade da água encanada aumentou substancialmente em Barcelona desde a incorporação de tratamentos avançados nos últimos anos. No entanto, esta melhoria considerável não foi espelhada por um aumento no consumo de água de torneira, o que sugere que o consumo de água pode ser motivado por outros fatores subjetivos que não a qualidade”, diz Cristina Villanueva, pesquisadora do ISGlobal e primeira autora do estudo.
Para Cristina, um dos “fatores subjetivos” refere-se à percepção da população sobre os compostos químicos presentes na água da torneira. “Embora seja verdade que a água da torneira pode conter trihalometanos (gerados do tratamento de água) e que tais substâncias estão associadas ao câncer de bexiga, nosso estudo mostra que, devido à alta qualidade da água da torneira em Barcelona, o risco para a saúde é pequeno, principalmente quando levamos em consideração os impactos gerais da água engarrafada”, garante a pesquisadora.
Além disso, ainda segundo o estudo, o uso de filtros domésticos, além de melhorar o sabor e o odor da água da torneira, pode reduzir os níveis de trihalometanos em alguns casos. “Apesar de não termos dados suficientes para medir totalmente o impacto ambiental da água da torneira filtrada, sabemos que é muito inferior ao da água engarrafada”, acrescenta Cristina.
Os autores do estudo reforçam que os dispositivos domésticos de filtragem requerem uma manutenção adequada para bom desempenho e para evitar a proliferação microbiana.
Método
Geralmente, os estudos medem separadamente os impactos ambientais e de saúde, o diferencial desta pesquisa foi justamente unir as duas pontas. Os impactos ambientais foram estimados com uma metodologia denominada Avaliação do Ciclo de Vida (LCA), enquanto as consequências na saúde humana foram estimadas com uma abordagem denominada Avaliação de Impacto na Saúde (HIA).
A Avaliação do Ciclo de Vida foi realizada por meio de um software específico e método denominado ReCiPe, que permitiu aos pesquisadores estimar os danos aos ecossistemas e à disponibilidade de recursos, bem como os impactos indiretos na saúde humana
decorrentes do processo de produção de água engarrafada e de torneira. A Avaliação de Impacto na Saúde usou dados sobre padrões de consumo de água e níveis de compostos químicos no abastecimento de água da Agência de Saúde Pública de Barcelona.
O estudo, em inglês, foi publicado na Science of the Total Environment.
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