Imagine que você é um bebê de poucos meses e que sua mãe invadiu uma casa e te abandonou em um quarto com três outros bebês, todos mais novos que você. No processo, ela golpeou dois desses seus "irmãos adotivos" na cabeça, acarretando na morte deles.
Imagine que você se encontra agora com o dever de matar o último só para ser o preferido de sua nova mãe adotiva. Por mais macabro que isso pareça, é exatamente essa a estratégia reprodutiva dos Indicatoridae, uma família de pássaros que parasitam ninhos de outros pássaros.
A mãe "terceiriza" o dispendioso e limitante cuidado parental quando escolhe ninhos de outras espécies para depositar seus ovos e bica os ovos locais enquanto coloca os dela.
Enquanto ela vai embora e aumenta o próprio sucesso reprodutivo repetindo a tática, seu filhote termina o trabalho.
Como ele é maior, mais pesado e tende a eclodir antes dos outros, ele usa seu bico em forma de gancho adaptado especificamente para matar (veja as imagens) golpeando até a morte os irmãos adotivos que ainda restam e assim canaliza o investimento parental só para si.
Os indicatorídeos são parentes de pica-paus e capitonídeos, que não têm esse bico. Os ganchos, além disso, somem dias depois. Esse instinto assassino fruto da seleção natural é o extremo do parasitismo de ninho, que acontece em outras espécies de ave, e do conflito entre irmãos pelos cuidados dos pais, que acontece em todos os seres vivos com proteção parental, incluindo humanos.
É o "gene egoísta" em sua forma mais pura. Um artigo dá todos os detalhes do caso, incluindo um vídeo do momento da morte. O nome é sugestivo, "Uma facada no escuro: morte de ninhegos por guias-de-mel parasitas".
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