Nesta quinta-feira, a Serra do Mursa, imponente e silenciosa guardiã de Várzea Paulista, foi tomada por um lamento que ecoou pelos vales. As chamas, vorazes, se espalhavam pelo seu corpo, como se dilacerassem a alma de uma mãe que nada pode fazer para proteger seus filhos. O fogo avançava impiedosamente, consumindo árvores, ninhos, e flores, enquanto os animais, indefesos, gritavam em um coro desesperado de dor. O vento, cúmplice involuntário, levava as labaredas mais longe, como se espalhasse o sofrimento por toda a cidade.
A Serra, mãe generosa que sempre ofereceu abrigo, alimento e vida, agora estava em agonia.
Seu verde se transformava em cinzas, suas nascentes secam de tristeza, e os animais, seus filhos mais preciosos, corriam sem rumo, sem saber para onde fugir.
O que antes era um santuário, repleto de vida e harmonia, agora era um inferno em chamas. Cada árvore que caía era como um grito sufocado da natureza, e cada ave que partia era uma lágrima da mãe, que via sua prole sucumbir ao desastre.
Alguns homens, movidos pela compaixão, tentavam em vão combater as chamas. Com baldes, mangueiras e o próprio suor, lutavam para salvar o que ainda restava da mãe ferida. O olhar deles refletia a mesma dor que a Serra sentia, como se fossem seus filhos também. Mas, ao redor, outros observavam o espetáculo com indiferença, rindo do brilho das labaredas que rasgavam a noite e o dia. Para eles, o fogo era apenas uma luz a mais no horizonte, algo distante e sem importância. Enquanto a mãe morria, alguns preferiam não ouvir seu choro.
E a Serra, coberta pelas chamas, soluçava. Cada folha que queimava era um suspiro da terra, cada animal que caía, um pedaço do seu coração que se partia. Ela, que por séculos ofereceu sombra e refúgio, agora era vítima da própria criação. Os homens, que um dia buscaram abrigo em suas encostas, agora eram os responsáveis por seu sofrimento. Alguns a defendiam, mas outros, com mãos manchadas de descaso, eram os que a condenavam.
O que será da Serra do Mursa? A mãe que chora não desiste, mas suas feridas estão profundas, e sua voz, antes forte e cheia de vida, agora mal se ouve em meio ao crepitar do fogo. A natureza, sempre resiliente, tentará renascer. Mas as marcas do fogo, assim como o desprezo de alguns, jamais serão apagadas.
Hoje, a Serra pede socorro. Amanhã, talvez, seja tarde demais.
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