Uma das consequências do aumento da temperatura global é o derretimento acelerado de calotas polares, que, além de ameaçar todo o ecossistema, pode varrer completamente cidades costeiras do mapa. Para que catástrofes não ocorram, diversos estudos propõem métodos peculiares envolvendo a chamada geoengenharia, intervenção humana deliberada e em grande escala no sistema climático da Terra. Leslie Field, engenheira de Stanford, de acordo com a BBC News, tem a sua ideia: espalhar “vidro” por todo o Ártico.
Não se trata, necessariamente, de vidro em si, mas de dióxido de silício modificado, presente na areia em sua forma original. A abordagem, promovida pelo Arctic Ice Project, segundo a pesquisadora, criaria uma proteção extra sobre o gelo, refletindo raios solares com mais intensidade e dando a ele mais tempo para que se recupere em seu ciclo. Para auxiliá-la, um fabricante transformou a matéria-prima em bolinhas minúsculas e brilhantes, com cerca de 65 micrômetros de diâmetro, mais finas que o cabelo humano e grandes demais para serem inaladas e causarem problemas pulmonares, além de ocas por dentro.
Visando entender os benefícios do método, Leslie e sua equipe o colocaram em prática nas últimas décadas em vários lagos e lagoas no Canadá e nos Estados Unidos. Segundo eles, os resultados foram encorajadores, tornando o gelo jovem 20% mais reflexivo – o suficiente para atrasar o derretimento do material em determinados locais e para mantê-lo mesmo quando outras partes não “protegidas” desapareceram durante a primavera.
Entretanto, a comunidade científica geral não está tão confiante de que a ação possa realmente funcionar sem consequências indesejadas.
Um dos principais questionamentos quanto à novidade levantados por especialistas diz respeito à durabilidade do componente, cuja presença por tempo indeterminado no ambiente, defendem, pode “entupir o oceano e bagunçar o ecossistema.” É o que afirma Cecilia Bitz, cientista atmosférica da Universidade de Washington que se especializou em gelo marinho Ártico.
Além disso, dependendo da potência de reflexão das esferas, a capacidade de fotossíntese de plânctons e algas, por exemplo, seria duramente afetada, gerando um efeito cascata e prejudicando todas as criaturas envolvidas na cadeia alimentar em questão, aponta Karina Giesbrecht, química oceânica e ecologista da Universidade de Victoria, Canadá.
Por fim, o tamanho das pecinhas de dióxido de silício é semelhante ao de diatomáceas, microrganismos consumidos pelos já citados plânctons, ressalta Giesbrecht. Se fossem ingeridas, não garantiriam nutrição alguma e os fariam morrer de fome, dando continuidade aos colapsos ambientais.
Perguntas relacionadas a quem financiaria a proposta, que custaria, a princípio, de R$ 5 bilhões a R$ 27 bilhões anuais, também foram realizadas e não respondidas. Ainda assim, Leslie não desanima e está disposta a continuar analisando as implicações de seu projeto ousado.
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