Serra do Mursa: A natureza que Alimenta vidas em Várzea Paulista
- Dircélio Timóteo
- há 35 minutos
- 2 min de leitura
Refúgio de biodiversidade, a Serra do Mursa abriga uma rica variedade de plantas e animais, além de ser berço de dezenas de nascentes que respondem por cerca de 30% do abastecimento de água de Várzea Paulista.

No alto dos seus 1.066 metros de altitude, a Serra do Mursa resiste. Localizada entre os municípios de Jundiaí, Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista, a serra faz parte da imponente Serra dos Cristais, abrigando uma biodiversidade rara, com espécies de flores exóticas, animais silvestres e nascentes que abastecem 30% da água consumida em Várzea Paulista.
Mas a paz que reina sobre o topo da montanha não se reflete nos bastidores da política e do mercado imobiliário. Há mais de uma década, a Serra do Mursa vem sendo ameaçada por um processo silencioso, porém contínuo, de avanço urbano. E quando a sociedade se distrai, é justamente aí que o sistema opera: silenciosamente, loteamentos surgem onde antes havia mata nativa.
Em 2011, um episódio emblemático acendeu o alerta da população: o então prefeito Eduardo Tadeu Pereira, em reunião pública, afirmou que não vetaria uma lei que alterava 2,5 milhões de metros quadrados da Zona de Proteção Ambiental, transformando-a em Zona de Estruturação Urbana. No dia seguinte, a sanção foi feita. A nova legislação permitiu loteamentos a menos de 500 metros da base da serra, com terrenos a partir de 300 m².
A medida provocou protestos e culminou em um movimento de resistência que ganhou força nas ruas e no Ministério Público.

Foto: Redes sociais
Em 2017, mais de 350 pessoas ocuparam as ruas contra a urbanização da Serra. Desde então, surgiram ações efetivas de proteção. Uma delas foi a criação do grupo "Amigos da Serra", que, em parceria com a Guarda Civil Ambiental, implementou ações de monitoramento, combate a incêndios e controle de acesso irregular ao local, que antes era frequentado clandestinamente por trilheiros e turistas em busca do pôr do sol.
No último domingo (19), os Amigos da Serra comemoraram um feito histórico: uma placa foi instalada na Estrada do Mursa, destacando dois dados expressivos:
➡️ 250 dias sem incêndios registrados
➡️ 1.462 dias sem focos de fogo
A vitória, porém, ainda é parcial. A ameaça continua, vinda principalmente da especulação imobiliária. E é por isso que vozes como a de Getúlio Canuto, diretor da COMDEMA (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente), ecoam como um chamado à consciência. Em entrevista, Canuto destacou a importância de transformar a serra em um Parque Natural, garantindo proteção definitiva à fauna, flora e às nascentes.
“A população precisa ser parte ativa dessa fiscalização. É preciso cobrar o poder legislativo e executivo. Não podemos deixar que interesses privados determinem o futuro do que é coletivo”, afirmou.
Getúlio também alerta para um comportamento comum e perigoso: o silêncio da população.
“Quando o povo acha que está tudo bem e se distrai com outros problemas, as máquinas aparecem e o concreto avança. É assim que o sistema funciona. Se não estivermos atentos, perdemos a serra sem nem perceber.”
A Serra do Mursa não pode ser apenas contemplada, ela precisa ser defendida. Enquanto houver silêncio, há espaço para a destruição. O que está em jogo é mais que uma paisagem: é água, é vida, é identidade.
Comments