Quando a infância acompanha o peso da sobrevivência

Ainda criança, Adrielli aprendeu que a vida nem sempre oferece caminhos fáceis. No Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, onde nasceu e cresceu, o amanhecer nunca foi sinônimo de descanso.

Era o horário em que sua família saía de casa para enfrentar as ruas, vielas e becos da cidade em busca de resíduos descartados que, mais tarde, seriam vendidos para garantir o sustento.

Aos apenas 6 anos de idade, Adrielli já acompanhava a mãe nessa rotina dura. O cenário se repete na memória como um filme que marcou sua infância: a mãe empurrando um carrinho de mão pesado, avançando de resíduo em resíduo, enquanto o sol ainda surgia tímido no horizonte. Pequena demais para ajudar, Adrielli seguia ao lado, observando em silêncio. Sentia vontade de empurrar o carrinho, de aliviar o esforço daquela mulher que carregava, além do peso do material coletado, a responsabilidade de sustentar a família. Mas faltavam força, tamanho e idade.

O que sobrava era admiração. A imagem da mãe, curvada pelo esforço, tornou-se símbolo de resistência e sobrevivência. Uma realidade compartilhada por milhares de brasileiros que encontram na coleta de recicláveis a única alternativa para colocar comida na mesa.

Hoje, aos 21 anos, Adrielli cresceu. E, de certa forma, empurra o próprio carrinho da vida. Ela faz parte de uma cooperativa de reciclagem, onde o trabalho é mais organizado e reconhecido, distante das ruas onde sua mãe enfrentou tanto sofrimento. A luta, no entanto, ainda existe. Mudaram as condições, mas não os desafios.

A diferença é que agora há menos dor do que no passado. Há dignidade, pertencimento e a esperança de dias melhores. Adrielli carrega consigo a história da família e de tantos outros catadores invisibilizados pela cidade, mas essenciais para o meio ambiente e para a economia circular.

Sua trajetória é marcada por perdas, esforço e resistência, mas também por transformação. A menina que caminhava ao lado do carrinho de mão hoje ocupa um espaço de protagonismo, honrando a força da mãe e mostrando que, mesmo nas realidades mais duras, é possível construir novos caminhos — sem esquecer de onde se veio.